Também chamada de vaginite ou vulvovaginite, a leucorréia é caracterizada pelo aumento do fluxo de descarga vaginal (corrimento vaginal). Os principais sintomas são, além do aumento no fluxo vaginal, cheiro forte e desagradável, secreção com consistência alterada, coceira na vagina ou na vulva, aumento da vontade de urinar, ardor ao urinar e dor e irritação durante o ato sexual.
A secreção vaginal é normal durante os anos reprodutivos, sendo resultado da secreção de glândulas do corpo, da descamação das células vaginais e das bactérias presentes na flora vaginal. Em seu aspecto normal, não apresenta cheiro e tem a coloração esbranquiçada.
O estresse também é um fator que deve ser levado em consideração no estabelecimento do quadro de leucorréia, uma vez que altera o equilíbrio do corpo como um todo, diminui a imunidade e facilita a contaminação por agentes patogênicos externos como os fungos e as bactérias.
Leucorréia na Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
Na MTC a leucorréia é chamada de “Dai Xia” (descarga vaginal) e, de acordo com a sintomatologia, poderá receber diferentes diagnósticos. De modo geral, alguns sistemas podem estar envolvidos no desencadeamento da desarmonia: Baço, Fígado e Rim, além de alguns canais de energia ditos “Extraordinários” como o Vaso Penetrante (Chong Mai), o Concepção (Ren Mai) e o da Cintura (Dai Mai). Cada um dos diagnósticos acarretará em um tratamento diferente, o que faz com que seja imprescindível que um profissional treinado seja procurado para que possa planejar o tratamento.
Quando uma deficiência do Baço estiver presente, diz-se que ocorre uma Leucorréia do tipo Umidade-Fria. Os principais sintomas serão leucorréia profusa e espessa de coloração branca ou amarela-clara, sem alteração de odor. A cor da pele pode estar pálida ou amarelada e a pessoa pode relatar sensação de cansaço, falta de apetite, sensação de inchaço abdominal e edema de membros inferiores. As fezes podem estar soltas e as extemidades do corpo frias.
Outros sintomas que podem estar associados são náusea, sede sem vontade de ingerir líquidos e urina escassa. O pulso será fraco e lento e a língua pálida com revestimento pegajoso e branco. Nestes casos, o tratamento deve se destinar a fortalecer o Baço e eliminar a Umidade. Quando os sintomas de frio forem muito intensos, deve-se aquecer o Yang do Baço também.
De acordo com a MTC, o Baço é facilmente afetado pelo fator patogênico externo Umidade; deste modo, se estiver deficiente, o Baço se tornará facilmente propenso a ser invadido pela Umidade, o que pode desencadear a leucorréia. O meio ambiente, portanto, influencia bastante na coexistência de fatores que podem facilitar que a leucorréia se desenvolva: moradoras de regiões mais úmidas, como o litoral, por exemplo, estão mais propensas a desenvolver a leucorréia do que mulheres que vivam em locais mais secos, principalmente aquelas que já apresentem alguma deficiência nas funções do Baço.
Já quando o Rim parece estar em deficiência observaremos sintomas bastante semelhantes no que se refere à leucorréia, igualmente do tipo Umidade-Fria, com a diferença de que, neste caso, a secreção será mais aquosa e transparente. Além disso, dor na região lombar, micção frequente e excessiva, fezes soltas, extremidades frias e sensação de frio, língua pálida e pulso profundo são observados. O princípio de tratamento será o de nutrir o Rim e expulsar o frio, aquecendo o Yang do Baço. Na grande maioria das vezes, o que se observa são patologias que combinam desarmonias do Baço e do Rim; nestes casos, ambos deverão ser trabalhados, e tanto a Umidade quanto o Frio deverão ser expelidos.
Se as leucorréias que evolvem Baço e Rim são diagnosticadas como do tipo Umidade-Frio, a causada por uma desarmonia do Fígado recebrá o nome de Umidade-Calor. Geralmente o fator desencadeante é o mesmo: um Baço deficiente que, ao falhar em suas funções de transformar e transportar os líquidos do corpo, permite que a Umidade se instale no aquecedor médio, localizado na região abdominal.
Quando o Fígado está em desarmonia ele gera calor, e este Calor pode combinar-se com a Umidade gerando sintomas como a leucorréia mais espessa, amarelada, de odor fétido e que causa coceira.
Outros sintomas podem ser fezes secas, urina escassa e amarela, língua vermelha com revestimento amarelo e pegajoso e pulso suave e rápido. Em casos extremos pode haver sangue presente na secreção e sintomas como gosto amargo na boca, garganta seca, irritabilidade, sensação febril, palpitação e insônia.
Todos estes sintomas estão relacionado à combinação dos fatores patogênicos Calor e Umidade. O Fígado receberá especial atenção no tratamento, que irá se destinar à restabelecer o livre fluxo de Qi e Sangue pelo corpo e a remover a Umidade instalada.